Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

27 de mar. de 2006

Dia Mundial do Teatro

A Ópera de Três Vinténs (Threepenny Opera) em palco - Sydney, 1994
A Dreigroschenopera de Brecht e Kurt Weil conheceu várias versões, e é
nela que se
baseia a Ópera do Malandro, de Chico Buarque.


Um dia para recordar, por exemplo, Bertolt Brecht, uma figura da maior importância para o teatro contemporâneo. Mais sobre a vida e obra de Brecht aqui. Entretanto, fica a Balada (Moritat) de Mackie Messer, composta por Kurt Weil para a Ópera de Três Vinténs, aqui interpretada por Lotte Lenya, e as



Perguntas de Um Operário Letrado


Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas

Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem

Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?


Tantas histórias,
Quantas perguntas.

(Bertolt Brecht)












Bertolt Brecht (segundo a contar da esquerda) tocando flauta numa banda de rua (1919).
Curiosidade: Ao centro, com o oboé, está o genial comediante Karl Valentim.

19 comentários:

Cristina disse...

alien

bela homenagem ao teatro:)))

obrigada. a musica astá fantastica.

um beijinho grande. acho que vou dormir ;)

Anônimo disse...

Olá... Mário... me desculpe uma pergunta.. josé gil ou fernando gil são a mesma pessoa???

é que o josé gil eu o conheci e tenho livro autografado pelo proprio. conheci ele nas suas palestras e ouvi ele declamar poesia e fiz comentários sobre escrita criativa!!! fiquei agora na duvida... é que nos ultimos dias tenho andado com o livro a crucificada, escrito por josé gil. mas, diga-me Fernando gil e josé gil são a mesma pessoa???
será que existem mais de dois josé gil???

tenho de ver isto melhor!!!

um abraço... Pérola.. a outra

Alien8 disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Alien8 disse...

Olá Pérola,

Tive que apagar e reeditar o comentário só porque me esqueci de referir que "La Crucifiée" é, de facto, de José Gil. Como também é dele a obra mais recente, "Portugal Hoje. O Medo de Existir".
Não são a mesma pessoa. Fernando Augusto Gil era o filósofo que faleceu na semana passada. José Nuno Gil, outro filósofo, está vivo, felizmente. Tal como o falecido, é professor catedrático de Filosofia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Ambos também leccionam / leccionavam em universidades estrangeiras.

Para baralhar mais as coisas, há ainda o meu amigo José Nogueira Gil, especialista em Linguística e Românicas, bom cozinheiro e crítico de gastronomia :)

Um abraço e obrigado pela visita!

Anônimo disse...

Caro Mário
não podia deixar de vir à tua nova casa!
1 abraço
easy

Alien8 disse...

Spartakus,
Boa noite. Abraço.

Alien8 disse...

Easy,
Bem vindo, amigo! O que tens andado a fazer? Fico à espera de novas visitas. Um abraço.

wind disse...

Vim agradecer a visita e deparo com um post de um bom gosto excepcional:) Gosto muito de Brecht:)

Cecília Longo disse...

ola
bela musica que me transporta a outros tempos.
Bela homenagem ao brecht. Se fosse o bertolt ficava feliz
dia bom;)

Anônimo disse...

Querido Amigo
acredita que "não" queres saber o que eu tenho andado a fazer...
a ver se volto ao "porto" dentro em pouco...
1 abraço
easy

Caracolinha disse...

Olá alien ... 8 !!!!

O 8 está em destaque, porque é o meu número preferido !!!

Adorei a tua visita lá na casquinha ... já te tinha visto muitas vezes no blog de uma muito querida amiga, a que estreou os comentáros deste post :) ... e já tinha ido espreitar um blog teu que, salvo erro, não era este ...

Adorei o post, merecida homenagem e delirei com a música ... fica o convite para mais voltas à casquinha, a minha casca é a tua casa alien ... e voltarei de certeza, para mais vistitas porque, fazendo minhas as tuas palavras ... "está-se muito bem aqui" ... :))

Beijoca encaracolada da molusca !!!!

José disse...

nunca é demais perguntar...

Anônimo disse...

Bertolt Brecht é imortal.
Nós somos mortais........
Beijos

Alien8 disse...

Easy,
Ok, não quero saber :), mas aguardo o teu regresso ao porto...
Abração.

Alien8 disse...

Caracolinha,
Ainda bem que gostaste, sobretudo do 8, que fica muito bem junto do alien - penso eu de que :)
O outro blog ainda existe, mas a nossa querida amiga convenceu-me a mudar para aqui, e agora dedico mais tempo a este, onde serás sempre bem vinda.
Beijoca.

Alien8 disse...

mar,
Tens toda a razão. Dizer mais para quê?
Boa noite, beijos.

Alien8 disse...

Wind,
Ainda bem que gostaste, e que gostas de Brecht. Obrigado :) Volta sempre.

Alien8 disse...

Cila,
Também gosto muito da música, claro. E do Brecht. Ficava feliz? Que bom! Obrigado e um beijo.

ana roque disse...

Estava eu passear no teu blog à procura de mais textos do estlo do Passeio que fizeste este mês e dou de caras com Kurt Weil. Adoro!
Uma amiga minha produziu no ano passado a peça Galileu Galilei e a par disso fez um café concerto com musicas desse senhor. Gostei imenso.

Agora vou continuar a procurar os textos