À procura das palavras
I
Subi então até à raíz do poema
e aí encontrei uma flor petrificada.
Olhei em volta, à procura das palavras
que pudesse comprar a minha sede:
- Era um deserto de nervos
Com margens de sangue
A paisagem na raíz do poema - eu.
Murmurei vagamente uma oração antiga
E quase me desfiz em pó de tanto olhar
E me arder a vista atroz, incendiada, no crepúsculo
inigualável. Silêncio e mais silêncio.
II
A água corria, corria por entre as pedras,
levava no corpo destroços de cidades,
laranjas esquecidas na penumbra,
raparigas ironicamente vestidas, vestidas de verde,
raparigas-água impressionantes, sorridentes.
A água corria e era muita e era bela. Levava
A palavra procurada, a palavra do poema
algures no corpo, recatada e mansa, talvez adormecida.
Eu sabia apenas que entretanto amanhecera.
III
Tenho sede. Ergo-me de repente e abandono
o amável leito de todos os dias. Veloz como
o navio que sabe seguro o porto, ganho
o espaço ritual que me separa de mim.
Tenho sede. O meu pulso é algo de concreto e latejante,
assim me sinto e reconheço, à procura das palavras
na raíz incandescente do poema - eu.
São de pedra as cidades, são enormes e movem-se
no ritmo lógico em torno dos meus ombros.
A flor petrificada olha-me heroicamente, meigamente,
o seu espanto é de carne rigorosa. Tem cinco pétalas
azuis emocionadas, inscritas pouco a pouco nos meus olhos
maravilhosos de ironia, incrivelmente densos.
(1978)
41 comentários:
eu é que fico.....emocionadamente petrificada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
um verdadeiro PRAZER!!!!!!!!!!!
e nem sei dizer mais A L I E N.
saúdo.TE.
enorme abraço.
(obrigada....)
imf.
pois, também estou petrificada com este belíssimo poema!
parabéns!!
De passagem, boa semana, abraço.
Simplesmente belo.
Obrigado por este momento de leitura tão agradável.
Beijo e boa semana amigo
lindo,lindo,lindo
e a música perfeitamente adequada.
um beijo grande da mana
Completamente assoberbada com as palavras que aqui deixas. Que bom início de semana.
Que sensibilidade. De um jovem então? (1978)
Deixo um beijinho
Isabel,
Nem precisas de dizer mais :)))
Obrigado!
Um abraço.
Teresa,
Gostaste? Óptimo! :)
Agora despetrifica-te :)))
Um beijo.
Pinto Ribeiro,
Obrigado. Boa semana para ti também.
E um abraço.
Mariatuché,
Obrigado sou eu.
Um beijinho.
Guida,
Olá, olá, olá, ainda há bocado estava a pensar porque diabo a minha maninha não comentava nada aqui, e afinal... :)))
Ainda bem que te agradou. Prometo publicar mais, incluindo as tais historietas.
Um beijo grande.
Gi,
Obrigado, de um então jovenzinho, sim, bastante jovenzinho :)))
Que a semana continue óptima.
Um beijo para ti.
Já em novo escrevias tão belo poema com algo de surrealista, daí te dizer que tens algo de Boris Vian:)
Escrevo sempre isto.lol
Mas voltando ao poema, está mesmo magnífico! Parabéns:)
Beijos
Esqueci de escrever que a música é excelente:)
Alien 8 migo lindo
caramba.......tu és realmente um GRANDE ser!!!
Deixo um besso enormeeeeeeeeee para ti lindão e para o resto da familia!
PS: excelente escolha musical!
Sinceramente, não me parece que fosse de palavras que andasses, tu, ou o poeta à procura. Até porque as palavras estão lá, numa quase amálgama de sentidos: ...um deserto de nervos /Com margens de sangue.... E depois a presença feminina, a água, a calma, a beleza, que contrasta abruptamente com a última parte do poema, quanto a mim quase violenta. Sabes a imagem que me surge? A de um animal que se prepara para atacar a presa. Repara: Tenho sede. Ergo-me de repente (...) Veloz como / o navio (...) Tenho sede. O meu pulso é algo de concreto e latejante, / (...)raíz incandescente do poema - eu. E a finalizar um sorriso, diria, de vitória nos meus olhos
maravilhosos de ironia...
Gostei muito desta última imagem. A dos olhos. E, olha, provavelmente, nada disto seria a tua mensagem e, sinceramente, quando abri a caixa de comentários a intenção era só escrever: "Sinceramente, não me parece que fosse de palavras que andasses, tu, ou o poeta à procura." ehehehhehehhe...Mas as palavras são como as cerejas. E já agora, outra referência. Conforme fui lendo o teu poema, um outro me veio à mente, de Alexandre O´Neill:
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
As tuas palavras foram isso tudo. Intensas. Gostei.
Para quando a publicação do próximo poema? :p
_________________
Desculpa a extensão das palavras, mas também eu andam muitas vezes às procura delas e quando me dão raízes assim, eu não as recuso.
*ando
Wind,
Obrigado. Também acredito que tem algo de surrealista, ou quero acreditar. Mas há quanto tempo...
Um beijo.
Capricórnia,
Qual grande ser? Hehehehe! É muita bondade tua.
A família agradece e retribui :)
Um beijo, amiga.
Rosalina,
Agradeço imenso a tua análise / interpretação. Sei, apesar do tempo que passou, que a minha ideia não era a que defendes, mas defende-la bem. A minha chave será talvez a expressão "maravilhosos de ironia"... de que também gosto bastante, suspeito que sou. Creio também que, de facto, comecei a escrever o poema "à procura das palavras". Possivelmente encontrei algumas :)
O poema do O'Neill: conheço-o, gosto muito dele, gostei de o reler e de te ver referi-lo.
O próximo será publicado em breve, e provavelmente será também uma antiguidade. Ou então sairá mais uma daquelas histórias que escrevi recentemente, como a do Café Moçambique, o tal de Coimbra.
Ainda bem que não poupaste as palavras. Gostei muito do teu comentário, mesmo muito.
Um beijo.
olha fiquei aqui pasmado com este fantástico jogo de palavras...Parabéns!
Abraços
Alien
O tal Poema que eu devia conhecer...
É lindo.
Continua á procura de Palavras, escreve muito...porque vale a pena.
De mim, sem palavras, um beijo enorme.
Lola
bom dia Palavra.
resistente. ao tempo. como tudo o que é verdadeiro.
beijo.
boa tarde por aqui
deixo um beijo
e voo
Bom fim de semana amigo :)
Beijoooooooooooo
Bom fim de semana e um abraço.
Vim espreitar para ver se havia mais alguma antiguidade, perdão preciosidade por aqui. Já vi que não, vou-me mas nãos em antes deixar um beijinho e votos de um bom fim-de-semana.
bom fim de semana!!
beijos
Mocho Falante,
Obrigado!
Bom fim de semana e um abraço.
Lola,
Eu sei que vale a pena. Às vezes. Mas sim, continuarei à procura das palavras.
As de hoje são: outro grande beijo.
Isabel,
Boa tarde, bom fim de semana, boas palavras.
E um beijo.
Teresa,
Bom fim de tarde. Boa noite. Bom fim de semana. Tudo de bom. Um beijo.
Mariatuché,
Boa fim de semana, amiga, um beijo.
OPintas/Bernardo Kolbl,
Por aí também um bom fim de semana.
E um abraço.
Gi,
Ainda é cedo, pois...
Boa, essa da antiguidade :)))
Obrigado, um bom fim de semana para ti.
Beijinho.
Vim desejar bom fim de semana:)
beijos
A voltar, devagar, vim deixar um abraço.
Wind,
Um resto de bom domingo e uma boa semana para ti.
Um beijo.
PR,
O importante é voltar.
Boa semana.
Um abraço.
Bom dia e boa semana, abraço,
( Vai devagarinho, ainda não foi desta, só mais um remendo ).
PR,
Que tudo fique devidamente remendado e operacional.
Um abraço.
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