Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

20 de out. de 2006

Novidades do IRS

Todas as estações de Televisão anunciaram nos últimos dias, com o devido destaque, o fim da diferenciação entre solteiros e casados, para efeitos de dedução à colecta em razão do agregado familiar. Agora, casados e solteiros poderão deduzir a mesma percentagem do salário mínimo nacional (55%).

Certíssimo. Nada a objectar.

Houve, no entanto, outra alteração que não terá chegado ao conhecimento de algumas dessas emissoras, porque nelas não dei por qualquer notícia que se lhe referisse, e em outras foi apresentada â maneira das "letras pequeninas" que nos habituámos a ver em certos contratos.
Há uns anos, criou-se a distinção entre "contabilidade organizada" e "regime simplificado", sendo este aplicável a profissionais liberais e empresas cujos rendimentos não excedessem certo valor (cerca de 100 000 Euros para os profissionais liberais e cerca de 150 000 Euros para empresas). Ficou então estabelecido que, até à realização de estudos que fornecessem indicadores técnico-científicos para cada actividade, seria considerado como rendimento colectável dos profissionais liberais o valor resultante da aplicação do coeficiente de 65% ao seu rendimento. É apenas este coeficiente que agora interessa focar, precisamente porque foi o único a sofrer alteração no Orçamento de Estado para 2007.

Durante anos, considerou-se que os restantes 35% seriam verbas necessárias à formação dos rendimentos, e como tal não englobáveis. Os prometidos estudos ficaram, como sempre, por fazer.

Mas eis que, de repente, no meio da confusão, o Sr. Ministro das Finanças e o Governo em geral resolveram saír-se com um estudo a que só poderei chamar simplex, para não lhe chamar nadex ou nomes bastante piores que não param de me martelar o crânio. Estou a imaginar o "seminário":

- Ó pá, e se a gente pusesse 70% em vez dos 65% nos gajos liberais, hem? - Olha que é capaz de ser boa ideia, caramba! Ganhávamos aí uma batelada! - Mas então e os estudos...? - Os estudos que se lixem, pá. Ainda por cima, essa malta farta-se de fugir ao Fisco... - Ó pá, mas isto vai é apanhar os que não fogem... - Ai vai? Pois é... mas dá jeito, não? - Lá isso dá... - Então está feito. São 70% e não se fala mais nisso. E discrição nas notícias, pá, ok?

E pronto. De um momento para o outro, os profissionais liberais que deram pela coisa na Televisão ficaram a saber que só precisam de gastar 30% do rendimento para terem rendimento. Aquilo dos 35% era treta.

Tudo boas notícias. E assim se faz política neste país. Assim funciona a Comunicação Social.
Assim se ultrapassam as crises. Que, parece, já não há... ahahahahahahahahah!

P.S. : Não estranhem a fotografia. É que o outro também ia baixar os impostos.

16 de out. de 2006

A gata



De volta a estas lides, nada melhor que cumprir eventuais promessas e, na passada, mostrar as habilidades de uma das gatas da casa. Está longe de ser a única com apetência por teclados e monitores, o que demonstra que os Gatos e a Informática têm ligações misteriosas.




A música também é outra. "Penny Lane", dos Beatles, uma das minhas canções de referência de outros tempos, e que continuo a gostar de ouvir.

"In Penny Lane there is a barber showing photographs
Of every head he's had the pleasure to know..."

"In Penny Lane there is a fireman with an hourglass
And in his pocket is a portrait of the Queen.
He likes to keep his fire engine clean,
It's a clean machine..."

A ironia. Os ruídos do centro da cidade. Comboios. E a subida de Fá para Sol. Notável.