Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

25 de abr. de 2008

25 de Abril - 34 anos depois




Podem chamar-lhe golpe de Estado, Revolução, golpe de Estado que passou a Revolução, Revolução incompleta ou traída, o que quiserem – os factos serão sempre os mesmos.

Quem me faz companhia neste espaço conhece perfeitamente o que era o ANTES e o que foi, e é, o DEPOIS. Por isso, dispenso-me de enumerar factos e mudanças, avanços e recuos.

Em vez disso, apetece-me HOJE, dia em que se cumpre mais um aniversário do 25 de Abril, pensar (e convidar-vos a pensar) no que será o AMANHÃ. Esta questão levanta uma série de perguntas que não posso deixar de fazer. Assim, por exemplo:

- A democracia em que vivemos tem conteúdo real?

- A justiça social está a ser, de facto, construída?

- Estamos a dar o nosso melhor ao país que é o nosso? Estamos, ao menos, a dar “qualquer coisinha”?

- A economia portuguesa é saudável? Viável? Está a caminho do crescimento, ou do abismo?

- A corrupção e as fraudes financeiras de toda a ordem são fenómenos passageiros?

- Estamos, como sociedade, mais preocupados com a solidariedade ou com o individualismo, ou seja, com as nossas próprias pessoas e bens? E como pessoas, como indivíduos, o que nos preocupa?

- Aonde nos conduzirá (e aos nossos filhos, e aos filhos dos nossos filhos...) o caminho que estamos a seguir?

- Em que lugar nos inserimos no espaço europeu e na “aldeia global” de que tanto se fala? E onde queremos inserir-nos?


Chega de perguntas. De acordo com a reflexão de cada um, que cada um actue para conseguir a mudança que achar conveniente. Que actue muito, pouco, o que puder e quiser, se o achar necessário. Que o faça pelas inúmeras formas possíveis.


Por mim, estou convencido de duas coisas essenciais:


- A mudança é necessária e urgente.

- Somos perfeitamente capazes de a assumir e de a concretizar, por muito que não dependa apenas de nós.



A todos, um bom 25 de Abril.