Cai a chuva, ploc, ploc
corre a chuva ploc, ploc

como um cavalo a galope.
Enche a rua, plás, plás
esconde a lua, plás, plás
e leva as folhas atrás.
Risca os vidros, truz, truz
molha os gatos, truz, truz
e até apaga a luz.
Parte as flores, plim, plim
maça a gente plim, plim
parece não ter mais fim.
(Luísa Ducla Soares)

A CHUVA
A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo frequentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A humedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.
(Jorge Luis Borges)
TEMPO DE CHUVA
Continua a chover
sinto-me mal
não sei se é febre ou mãos vazias

continua a chover
e é natural
nestes dias iguais aos outros dias
Ah se chovesse fogo ou lava
se chovessem gritos e punhais
se chovesse um hino uma palavra
um cartaz a dizer que isto é de mais
Continua a chover
sinto-me mal
e não há rio que leve esta mágoa
não da febre não das dores
mas desta chuva que nem desperta as flores
inútil falsa triste água-só-água