Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

31 de out. de 2006

À falta de música,

Deixo uma "letra". Ou várias.

Mais uma vez, o servidor de alojamento de páginas pessoais da Telepac, a quem pago para dispor de espaço de armazenamento na net, está "em baixo". Acontece com alguma frequência, e não se compreende. Nunca me descontaram nas facturas o tempo em que deixaram de me prestar este (e outros) serviços. Mas adiante, que não estou para lamentações.

A letra A de Alien8, para começar:



A letra H de Happy e de Halloween, já agora:



E uma "letra" de que gosto bastante, e que hoje me parece apropriada... :

Cantares de Andarilho

("letra" de António Quadros para música de José Afonso)





Já fiz recados às bruxas
do Caselho à Portelada
dei-lhes a minha inocência
elas não me deram nada.

Andei à giesta,
ao lírio maninho,
na Bouça da Fresta,
no Casal Velido.
Erva cidreira,
à erva veludo,
na Lomba regueira
no Pinhal do Mudo.

Andei ao licranço,
andei ao lacrau,
no Monte do Manso,
na Espera do Mau.
'Vib'ra, à carocha,
ao corujão cego,
na mata da Tocha,
no rio Lágedo.

Fui andarilho das bruxas,
moço de S. Cipriano,
já fui morto e inda vivo,
vendi a alma ao Dianho.

Era donzel e guardei-me
p´rás filhas da feiticeira.
Parti-me em metade à loira,
noutra metade à morena.


E daqui a nada é Dia de Todos os Santos. Gozem o feriado.