Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

3 de jan. de 2007

Milénio

Escrevi isto por alturas da esfuziante entrada no novo milénio.
Chegamos agora ao sétimo ano do dito, e a minha perspectiva continua idêntica, e cada vez mais justificada, no meu modo de ver, pelos factos que todos os dias nos tomam de assalto.
Por isso, e sem mais comentários, aqui o deixo:

1000 N & 1

Os pirilampos atacam na Avenida

No braço esquerdo da Torre a chuva arde

A Oriente há um degrau onde o sol chora

A decadência dos ferros de engomar


Que já nada é como dantes pensa o búzio

De olhar ausente nas feridas da seara

E um gelado lambe à luz dos Continentes

Botões e teclas e carros e mais carros


Em carrossel onde os sonhos se desdizem

Dos ecrãs seminaristas cospem mar

E aquele ali com a gravata às utopias


Ri-se gatilho na tecnodiscoteca

Que amanhã sim encontraremos rimas

Quando já só nos sobrar uma palavra

31 de dez. de 2006

Feliz Ano Novo

Já aí vem o 2007!
Que seja bom para todos. Que traga paz, fora e dentro de nós.
E tudo o resto que sabemos e desejamos.
Por falar em saber, que traga sabedoria, que faz muita, muita falta...
Que traga consciência da vida, do mundo, do presente e do futuro.





Para todos, um Feliz Ano Novo!



P.S.: Não tenho tido tempo para vir aqui. Peço desculpa por não ter retribuído as vossas visitas. Para o ano serei mais assíduo :)