Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

6 de mai. de 2006

7 de Maio - Dia da Mãe



Mãe é mãe, não é preciso dizer mais nada.





A todas as mães, uma beijoca!



4 de mai. de 2006

Pátrias


A propósito do post de ontem da Cristina , dou-vos conta de uma espécie de dilema que me vem acompanhando ao longo dos anos. Não gosto de nacionalismos nem de patrioteirismos. Penso que só amamos e respeitamos verdadeiramente a nossa pátria se amarmos e respeitarmos as pátrias dos outros. Eu poderia ter nascido na China ou no Senegal, e estaria exactamente na mesma posição de A que nasceu na China ou B que é do Senegal - e gostaria que A e B respeitassem a minha pátria. Creio também que não podemos afirmar o nosso país CONTRA os outros. Devemos afirmá-lo COM os outros, ainda que, por exemplo, por comparação COM os outros.

Que Portugal e os Portugueses têm defeitos, todos sabemos. Não há país nem povo que os não tenham... Não é por isso que vamos desprezar o nosso país e glorificar os países dos outros. Que Portugal e os Portugueses têm qualidades, também o sabemos. E também não será por isso que vamos colocar a nossa terrinha num pedestal e as dos outros na lama.

Cada povo com as suas características peculiares, ou nem tanto, e todos têm aspectos com grande interesse, e outros menos conseguidos. Apetece-me dizer que somos todos cidadãos do mundo, e a verdade é que o somos cada vez mais... veja-se a aldeia global em que tudo isto se vai transformando.

Considerar que um povo ou um país são "melhores" que outros é, por definição, subjectivo. Objectivo será classificar um país como mais rico - mas, no meu conceito, isso não significa que seja "melhor". Nem sequer que lá se viva melhor que num país mais pobre - este aspecto é também subjectivo.

Tenho tendência, portanto, em termos racionais, a não desprezar o meu país, mas igualmente a não exarcebar o meu amor à pátria, ou como se lhe queira chamar. E é aqui que entra o dilema: se assim é, por que razão vibro e sofro com as equipas e selecções nacionais, sejam de futebol, hóquei ou atletismo? Após alguns meses de ausência no estrangeiro, se ouço a guitarra do Carlos Paredes, sinto invariavelmente um nó na garganta. Porquê?

Que venha responder quem souber.

2 de mai. de 2006

Prato do dia - Bacalhau com broa

Hoje estou mais virado para a política gastronómica. Sempre a defender que o que é nacional é bom, lembrei-me de um exemplo que é capaz de não sofrer grande contestação. Afinal de contas, bacalhau com broa e migas é um conforto para os olhos e para o estômago (dos que podem...). Para os mais glutões, recomendam-se batatas assadas a murro como acompanhamento, que o prato até é levezinho. Ah, e bastante azeite, para manter a célebre dieta mediterrânica.





Ingredientes:
2 lombos grandes de bacalhau demolhado
1 kg de miolo de broa
7 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de banha
2 copos de vinho branco
1 cebola
1 folha de louro
2 dentes de alho
1 colher de sobremesa de colorau
sal e pimenta


Preparação:
Colocam-se os lombos de bacalhau demolhado numa assadeira. Junta-se 1 copo de vinho, 2 colheres de sopa de azeite, louro e pimenta.
Leva-se ao forno quente e deixa-se tostar.
Numa tigela faz-se uma pasta com o restante vinho, o miolo de broa esmigalhado, a banha, os alhos picados, o colorau e o resto do azeite.
Tempera-se com sal e pimenta e barram-se, com esta pasta, os lombos de bacalhau.
Colocam-se de novo no forno até ganhar cor.


(Receita tirada daqui)


Bom apetite!

30 de abr. de 2006

Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador



























Cartaz do 1º de Maio de 2004 da Confederação Intersindical Galega


Corria o ano de 1886, e os trabalhadores americanos estavam em luta pela jornada de trabalho de oito horas. Na sequência de uma greve geral e de manifestações iniciadas precisamente a 1 de Maio de 1886, em Chicago, oito dirigentes dos trabalhadores foram enforcados.

Em 1 de Maio de 1888, a Federação Americana do Trabalho assinalou a triste efeméride com outra série de manifestações em que se continuava a reivindicar o limite de oito horas diárias de trabalho.

No dia 1º. de Maio de 1890 as manifestações estenderam-se a várias cidades norte-americanas e europeias, tendo nesse mesmo ano o dia Primeiro de Maio sido considerado, pela II Internacional Socialista, o Dia do Trabalhador.

Hoje, o dia é comemorado um pouco por todo o mundo. Curiosamente, nos Estados Unidos (e em outros países) o Labo(u)r Day passou a ser celebrado em datas diferentes. No caso dos Estados Unidos, na primeira segunda-feira de Setembro, proporcionando a festa móvel a possibilidade de os trabalhadores gozarem, efectivamente, o seu feriado, que não pode assim coincidir com sábado ou domingo.

Um bom 1º. de Maio para todos. E um óptimo fim de semana prolongado, que o descanso faz parte do trabalho.

Se houvesse degraus na terra



















Imagem daqui

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

(Herberto Hélder)