
Estou como o Mário-Henrique Leiria: não me venham dizer que não há gambozinos. O O'Neill preferiu referir-se a macacos, mas os gambozinos remetem para o fantástico e o onírico, saltam do imaginário e do fabuloso, passam pela infância e, suprema ironia, conseguem transportar alguma inocência.
Ainda por cima, o nome cheira a petisco.
Há uns muito engraçados na Televisão. Disfarçam-se de comentadores e explicam-nos as coisas, que é como quem diz ensinam-nos a pensar. Ou pensam que ensinam.
Se por acaso metem o pé na argola, dizem logo que não disseram. Ou que disseram, mas. Matam-nos de tédio muito lentamente, e gostam. Já quase não adianta o zapping: eles estão em todo o lado, invadem tudo, alastram com política correcção pelo nosso quotidiano.
No dirigismo desportivo também se encontram exemplares notáveis. O que eles gambozineiam, meu Deus! O que eles se lambuzam, reviram, atropelam na voragem delirante do pequeno poder! Dizem as maiores barbaridades com o ar mais sério deste mundo, e esperam que acreditemos. E não é que, às vezes, acreditamos? Distraídos no meio da poluição dos dias, escapa-se-nos a capacidade crítica e vamos por ali abaixo sem nos darmos conta.
E na política? Passeiam por lá, misturam-se com os políticos sérios, que também os há, e esforçam-se por saltar para a ribalta. É aí que se tramam, porque às tantas se lhes percebe a gambozinice.
A evolução da tecnologia trouxe-nos uma nova classe: os gambozinos da blogosfera. Os que vêm dizer-nos que tipo de blogues devemos fazer, quais os que não são para ler, que posts devem ser evitados. Os que estão realmente convencidos de que os blogues deles é que são bons. Os que assaltam as caixas de comentários e lá deixam lixo e complexos de todo o tipo. E por aí adiante.
O problema é que este povo foi ensinado a acreditar que não existem gambozinos. Mas a treta das partidas pregadas aos ingénuos não passa, na verdade, de um disfarce. Acreditamos em bruxas, oráculos, leaders de opinião, nulidades da TV, da Rádio, dos jornais, chicos-espertos e estúpidos, sacripantas, fala-baratos, analistas económicos, satélites do futebol e até mesmo no professor Karamba. Mas em gambozinos, não. Nem os cheiramos. Não acreditamos neles, mas engolimos o que eles pregam, desde que sejam discretos e eficazes na camuflagem.
É por isso que os gambozinos são perigosos. Há que caçá-los. Vamos a isso?