Eu uso muito pouco o palavrão, por opção minha: entendo que o palavrão deve ser utilizado com moderação e, se possível, com respeito pelo bom gosto e pela unidade do texto em que aparece. O palavrão não avilta a língua, mas pode certamente, quando mal usado, maltratar o texto, aviltá-lo e traír-lhe as intenções. Ou seja, insultá-lo.
Por exemplo, se Fulano passa a vida a chamar filho da puta a toda a gente, a torto e a direito, no dia em quiser efectivamente chamar filho da puta a um filho da puta, ninguém lhe valoriza o qualificativo, passando o filho da puta nomeado impune, e com toda a calma. O mesmo se pode dizer de Sicrano, que constantemente manda pessoas à merda ou a outros locais que agora não cito, porque seria totalmente desnecessário: Quem está a ler sabe bem quais são.
Daí o meu apelo à parcimónia. Não se podem usar todas as jóias ao mesmo tempo. Seria de um tremendo mau gosto. Por outro lado, há jóias que não se adequam a certas ocasiões. Donde se segue que, além da parcimónia, é preciso critério. Bom gosto e bom senso, perdoem-me o lugar comum.
Numa campina do Ribatejo, um touro tresmalhou-se e provocou sérios danos na propriedade vizinha. A coisa deu para o torto, quer dizer, para o tribunal, e às tantas o maioral que deveria ter vigiado o turbulento bicho teve que prestar depoimento. Inquirido pelo juíz, entendeu colorir a explicação dos factos, para que nada escapasse à compreensão do meritíssimo. E assim falou:
"Senhor Doutor Juíz, vamos a um supônhamos. Vossa Incelência é boi. Anda pelo campo a pastar, desembesta-se, vem de lá da raíz da puta que o pariu, bate c'os cornos na cerca... e quem se fode é o maioral!?"
Não sei se me fiz entender...