Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

16 de fev. de 2008

A propósito

de um post publicado no blog Em Banho Maria da minha amiga MJF (cuja visita recomendo vivamente), e da frase de Descartes nele citada:

"Despreza-se um homem que tem ciúmes da mulher, porque isso é testemunho de que ele não ama como deve ser, e de que tem má opinião de si próprio ou dela".

e de o ciúme ser uma coisa boa ou má, e de se ser ou não ciumento,

ocorreram-me várias frases, citações, pequenas histórias. A primeira citação deixei-a lá, no comentário, mas vou repeti-la aqui:



Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra!
(mais ou menos o que, de acordo com o Evangelho segundo S. João, Jesus Cristo terá dito, mas não acerca de ciúmes... )




Depois veio-me à ideia aquele célebre verso de Álvaro de Campos:

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada."
Pois. Eu também nunca conheci quem se confessasse ciumento(a)...

Logo de seguida, duas daquelas deliciosas histórias curtas de Woody Allen, que cito de memória, sem qualquer preocupação de lhes conservar a forma, mas com total respeito pelo conteúdo.


A primeira refere-se ao medo do oculto, da solidão, do escuro, do desconhecido:



Quem de entre nós, sentado no sofá da sala, sozinho, a altas horas da noite, não sentiu já uma mão gelada poisar-se-lhe na nuca, arrepiando-o de pavor? Eu não, mas há quem tenha!

Porque me terá ocorrido esta história, a propósito de se ser ou não ciumento? Vá-se lá saber!...







A segunda já tem a ver com o
curioso trecho da citação de Descartes que fala de amar como deve ser:

Que qualidades deve então ter um bom amante? Considera-se geralmente que um bom amante deve ser simultaneamente terno e forte. Mas forte até que ponto? Há quem defenda que deve ser capaz de levantar, pelo menos, um peso de cem quilos.


Assunto resolvido!











Termino
a minha superior abordagem deste tema com a sabedoria popular plasmada nestes versos de uma canção do saudoso cómico brasileiro Grande Otelo (na foto, com muita pena de não ter conseguido encontrar o vídeo com a interpretação da canção):


A muié da gente
A muié da gente
É a muié da gente.
A gente briga por causa
Da
muié da gente.
A gente briga por causa

Da muié dos outro também,
Mas a
muié da gente
A gente não dá

P'ra ninguém.
Não dá, não!