Aliencake
Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.
14 de mar. de 2008
11 de mar. de 2008
Socrática

Sócrates, o engenheiro que tudo sabe: "O que me convence não é a força dos números, é a força da razão."
Esta frase grandiloquente do Primeiro-Ministro poderá até ter passado, perante os mais desprevenidos, por uma boa resposta à manifestação de professores contra a política educativa do Governo realizada em Lisboa no passado dia 8. É sempre bonito argumentar com a força da razão.
Fico, porém, com três pequenas dúvidas:
1. Quando de futuro José Sócrates ou qualquer membro do seu Governo vierem atirar-nos, como é hábito, com NÚMEROS sobre o crescimento económico, o défice, os impostos, a Função Pública, o Orçamento, a Saúde, a Educação, o investimento, o emprego ou o desemprego... e por aí adiante..., QUE CREDIBILIDADE PODERÃO TER? Afinal, são apenas números...

2. Estiveram cerca de 100 000 professores na manifestação. Pessoas, creio... Será que o Primeiro-Ministro confunde pessoas com números, ou com um número? Será que as pessoas, os cidadãos, no exercício do seu direito constitucional de se manifestarem, nada lhe dizem?
3. E se os professores que estiveram na manifestação, como os professores em geral, tiverem também a força da razão? É sempre uma hipótese, que um Primeiro-Ministro de Portugal não deveria sacudir de forma tão leviana... ou deveria?
P.S.: Segundo as últimas notícias, as negociações entre a FENPROF e a Ministra da Educação já recomeçaram... Afinal, parece que a força dos números convenceu... ou terá sido a força da razão? Ou ambas? :)