Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

19 de dez. de 2008

Para um Bom Natal...








... dão bastante jeito alguns pratos daqueles que ajudam à festa.

Por isso, com os meus votos de Feliz Natal para todos, aqui deixo uma sugestão de ementa composta por dois pratos que a Lola e a Arabica fizeram o favor de me enviar, e que são, sem dúvida, deliciosos.

Sobremesas e vinhos serão convosco.

Comecemos então com uma "entrada" da Arabica:

Ameijoas com Chouriço:

Ingredientes:
2 Kg de ameijoas pretas

6 colheres de sopa de azeite ou um pouco mais

5 dentes de alho

3 cebolas

200 g de chouriço de carne

vinho branco

2 limões

piri-piri q.b.
coentros ou salsa picada q.b.


Confecção
: Depois de bem lavadas, deixe as ameijoas de molho durante 1 hora +/-, bem cobertas de água com um pouco de sal, a fim de perderem a areia. Numa caçarola larga, leve ao lume o azeite e os alhos pisados. Quando estes alourarem mas não queimarem, junte-lhes as cebolas descascadas e picadas. Refogue em lume muito brando. Quando a cebola ficar translúcida, junte-lhe o chouriço cortado em rodelas grossas. Tempere com sal e piri-piri e vá adicionando pequenas porções de vinho branco, deixando refogar até o chouriço cozer. Adicione as ameijoas lavadas e escorridas, tape a caçarola e cozinhe até abrirem, agitando várias vezes a caçarola. Rejeite as ameijoas que ficarem fechadas. Já fora do lume, regue com um pouco de sumo de limão, polvilhe com coentros ou salsa picados e sirva de imediato, com pedaços de limão. Nota: não esquecer torrar pão para acompanhar :)

Sigamos com a receita da Lola:

Cabrito assado:


Ingredientes (para 6 a 8 pessoas)
* 1 cabrito de 3 a 3,5 kg (sem a fressura) ;
* 5 dentes de alho ;
* 1 colher de sopa de colorau ;
* 1 folha de louro ;
* 5 colheres de sopa de azeite ;
* 3 colheres de sopa de banha ;
* 0,5 litro de vinho branco ;
* sal grosso

Para acompanhamento:
* 2 kg de batatas;
* azeite q.b.;
* 1 dente de alho;

Confecção:
Depois de limpo e de se lhe ter retirado a fressura, barra-se o cabrito interior e exteriormente com uma papa feita com os alhos esmagados, sal grosso, o colorau, o louro, o azeite e a banha. O cabrito deverá ficar assim temperado de um dia para o outro.
Coloca-se então numa assadeira de barro e leva-se a assar em forno bem quente. Quando o cabrito se apresentar meio assado, começa a regar-se com o vinho branco (de vez em quando). O cabrito deve ficar bem tostado.

Acompanha com batatinhas que se cozinham do seguinte modo: Depois de lavadas, cozem-se com a pele 2 kg de batatinhas pequenas. Pelam-se e alouram-se depois num pouco de azeite onde previamente se alourou um dente de alho. Juntam-se ao cabrito quando estiverem bem louras.

Chegou a primeira sobremesa, da responsabilidade da Lola. Rabanadas, nem mais! :)

Ingredientes:
* 1 cacete de véspera
* 3 dl de leite
* 4 ovos
* 300 g de açúcar
* canela
* 1 casca de limão
* óleo para fritar



Confecção:
Leva-se o leite a ferver com duas colheres de sopa de açúcar e a casca de limão.
Batem-se os ovos muito bem, de modo que a clara fique imperceptível.
Corta-se o pão em fatias com cerca de 1,5 cm e passam-se primeiro pelo leite e depois pelos ovos.
Fritam-se em óleo bem quente e escorrem-se sobre papel absorvente ou sobre um pano.
Servem-se polvilhadas com açúcar e canela ou com calda de açúcar.



As velas foram amavelmente cedidas pela Arabica,


que também enviou esta sobremesa tradicional:

Aletria com Ovos
Ingredientes (para 10 pessoas)
100g de aletria
4 dl de leite
150g de acúcar
50g de manteiga
3 gemas
casca de limão
canela

Preparação
Coze-se a aletria em água durante 5 minutos e escorre-se.
Em seguida, leva-se o leite ao lume, juntamente com a casca de limão, açúcar e a aletria e deixa-se cozer. Depois de a aletria estar cozida, junta-se a manteiga e, fora do lume, misturam-se as gemas, previamente batidas.
Leva-se ao lume apenas para que as gemas cozam ligeiramente. Serve-se a aletria polvilhada com canela.

Outra excelente sobremesa, que agradeço à Graça B. :

FARÓFIAS ... com ou sem canela!

Ingredientes: 175 g de açúcar; 4 ovos muito frescos; 1 colher de sobremesa de maizena; 7,5 dl de leite; 1 casca de limão; canela Separam-se as gemas das claras. Batem-se as claras em castelo e quando estiverem bem firmes junta-se 50g de açúcar, continuando a bater até se obter um preparado bem espesso e seco. Entretanto, leva-se o leite ao lume num tacho com o restante açúcar e a casca de limão. Quando ferver, reduz-se o calor para manter apenas uma fervura suave. Deitam-se dentro colheradas do preparado de claras e açúcar. Deixam-se cozer rapidamente, voltando-as. Retiram-se as farófias com uma escumadeira e colocam-se num passador para escorrer. O leite que vai escorrendo das farófias junta-se ao do tacho. Depois dispõem-se no prato ou travessa de serviço fundos. Deixa-se arrefecer o leite em que as farófias cozeram e adiciona-se a maizena desfeita num pouco de leite ou de água frios e as gemas. Leva-se ao lume, mexendo sem parar para cozer e engrossar. Rectifica-se o açúcar se for necessário. Cobrem-se as farófias com o molho e polvilham-se com canela. Servem-se mornas ou frias.

A secção de bebidas começa, nem mais nem menos, com o néctar dos deuses, sugestão da Prof (obrigado!).


Prossigamos com mais duas contribuições da Arabica:

Vinho do Porto Quente
Ingredientes
0,5l de vinho do Porto de boa qualidade
1/2 cálice de aguardente velha
1 colher de sopa de mel
1 chávena de café de passas
1 chávena de café de corintos
1 pau de canela
Preparação
Deite o vinho do Porto num tacho. Em seguida, leve-o ao lume e vá adicionando os ingredientes pela ordem acima referida. Mexa muito bem até levantar fervura e sirva.



Ponche de Natal
Ingredientes (para seis pessoas)
2 doses de rum branco, vodka ou gim
2 doses de licor de pessego ou laranja
1 garrafa de vinho branco, gelado
1 garrafa de 300 ml de guaraná, gelado
açucar a gosto
1/2 mamão ou papaia
2 laranjas picadas em pequenos pedaços
1/2 abacaxi
12 cerejas (cristalizadas)
2 Kiwis
1/2 manga

Preparação
Corte as frutas em cubos.
Coloque numa poncheira (ou saladeira) todos os ingredientes, pela ordem em que aparecem na receita.

E mais uma que desencantei algures, para quem a prefira à do vinho do Porto:

Vinho quente
Ingredientes:
açúcar a gosto
casca de 1 laranja média
3 colheres (sopa) de sumo de limão
1 chávena (chá) de sumo de laranja
5 cravos-da-índia
1 litro de vinho tinto seco
2 pedaços de canela em pau



BOAS FESTAS

PARA TODOS




Preparação:

Numa panela grande, coloque o vinho, a casca e o sumo de laranja, o sumo de limão, a canela e os cravos e leve ao lume. Assim que levantar fervura, acrescente o açúcar; deixe por mais 5 minutos e retire do lume. Deixe o vinho quente descansar por 1 hora num recipiente tapado. No momento de servir, aqueça-o novamente.





14 de dez. de 2008


PARABÉNS, LOLA!!!


Para ti, hoje, um documento histórico :)
Que o teu dia de aniversário seja ainda mais feliz!
Com um beijo. aqui te reofereço a Song for the Asking e a


TRAVESSIA

Éramos a força de nos darmos as mãos. De nos olharmos bem nos olhos, com a firmeza invulgar dos primitivos anjos, dos heróis lendários (que são, afinal, os únicos heróis) ou dos velhos, dos muito velhos amigos.

Dizer quantos, ou quem éramos, seria desnecessário, absurdo mesmo. Deixemos apenas entrever que, juntos, iniciámos de certo modo uma viagem, que a imaginámos, que lentamente a fomos construindo e que, sem nos darmos talvez conta disso, começámos a vivê-la quando apenas pensávamos sonhá-la. Como se a força do sonho dentro de nós tivesse posto em inexorável marcha os motores da realidade para, sobre o nosso ainda inocente espanto, o real se transformar em companheiro e mentor dos nossos sonhos.


Não olharemos nunca - nunca! - os nossos dezoito anos com desprezo, com a sobranceira suficiência de quem já ultrapassou, à força de duros golpes ou simplesmente da soma dos dias, os gritos espontâneos, a impulsiva generosidade, as noites enfeitadas de poemas, a ingenuidade dos cartazes e das flores roubadas - de preferência - aos jardins aburguesados, a ternura violenta, o ódio às pantufas, as lágrimas fáceis mas sinceras, o amor a quase tudo, mas sobretudo à vida.
Não os olharemos sequer com a condescendência de pessoas formadas e experientes, capazes já da saudade e da ironia. Nem mesmo com o sorriso compreensivo dos velhos marinheiros.



Tínhamos à nossa frente um oceano - e, como estátuas de um cristal indestrutível, esperávamos o embate das vagas na nossa pura transparência, ansiosos da dor e do sal, tão ansiosos que

- Sabes - dizia-me no silêncio da noite uma das tuas tranças - a que ponto é comovente rever o instante sublime em que os nossos corpos de vidro começaram a transmutar-se até que, sendo já carne, pudemos compreender que éramos carne, e ganhámos o movimento e a graça, e velozes corremos em direcção ao oceano, querendo penetrá-lo como se ainda fôssemos cristal, e o sol, ao atingir-nos no ângulo mais favorável, se dispersou em milhões de gotas de água, em milhões de pedras de sal que no espaço prolongaram a transparência quase imaterial dos nossos corpos?


Sei que compreendeste por que não te respondi, a não ser, creio, com um vago sorriso que as sombras não poderiam ter escondido da tua perspicácia: Nenhum de nós ignora a maravilhosa propriedade das lágrimas que, depois da transmutação, se soltam da carne para voltarem, orgulhosas, ao cristal. Nenhum de nós ignora - e, por isso mesmo, porquê tê-lo dito? - que no rasto da tua pergunta atravessaram as sombras da noite, daquela noite, dois corpúsculos brilhantes que, ao encontrarem-se com outros dois, recém-nascidos dos meus olhos, produziram uma singular sonoridade musical, determinando no espaço aberto o exacto ponto de comoção.

(Porto, há uns anitos...)