Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

11 de nov. de 2008

Anel




Palavras para ti que fui escrevendo

Nos dias de papel que atravessámos

Ténues vestígios do que construímos

De olhos dados no mundo que inventámos

Do sonho em que calados descobrimos

Novas palavras para te ir escrevendo


37 comentários:

Teresa Durães disse...

(uma poesia de amor? ena!)

pois eu cá gostei bastante!

Lizzie disse...

Este é, Alien, um canto de quem não se cansa porque vai de "olhos dados" (lindo)descobrindo todos os dias diamantes que não o deixam cansar-se.

É um canto de atenção, uma das bases para o amor já alicerçado. Um amor que já não precisa da exuberância das palavras.
Um anel nos dedos da alma.

Tão delicada, esta tua contínua invenção.

Beijos

uf! disse...

parabéns ao «inventor». não consigo ouvir a música :-(

Vanda disse...

Alien (e Lola) :)


Infinitamente belo e tocante.


Tão simples e tão profundo!



Gosto de saber destes amores felizes e solidos, que atravessam o papel dos anos, de olhos dados.


E como sinto celebração, levanto a taça :)

À vossa cumplicidade, amor e alegria!

Abraço duplo, sempre:)

wind disse...

Lindo:)
Beijos

Alien David Sousa disse...

Adorei Maninho, sim senhor!
Mais palavras para quê? :D

Beijinhos alienígenas

Alien8 disse...

Teresa,

Obrigado. Queres acreditar que até eu gostei? :)

Um bom fim de semana para ti, e um beijo.

Alien8 disse...

Lizzie,

A forma como viste o poema (a este, por acaso, por pequeno e simples que seja, atrevo-me a chamar poema; por vezes não sei se me hei-de atrever) é de um rigor e de uma sensibilidade impressionantes. Nem sei que mais te diga, a não ser Obrigado!

Um abraço.

Alien8 disse...

Tia Adoptada,

Obrigado! Pena a música, faz parte do todo.

Um bom fim de semana para si!

Alien8 disse...

Vanda,

Também tu chegaste ao que eu quis "dizer". E brindaste-me (melhor, brindaste-nos) com palavras que nos tocam. Por isso as agradecemos, e retribuímos o teu abraço duplo, levantando também as nossas taças.

Alien8 disse...

Mana DS,

Obrigado. Disseste o suficiente :D

Beijinhos alienígenas!

Lola disse...

Querido Alien,

Lindíssimo este anel.

Gosto que me vás escrevendo, reinventando o quotidiano para nos aproximarmos do sonho...

Gosto que nos descrevas com as tuas palavras que ultrapassam a sensibilidade poética...

Gosto de tudo o que escreves.

Gosto imenso dos aneis que me ofereces: os reais e os que nos unem de forma indelével.

Gosto de ti.

Beijos grandes

Anônimo disse...

Bom...abraços aos dois.
http://bandeiranegra1.wordpress.com/

Alien8 disse...

Lola,

Foi bom teres gostado.
Foi bonito o que escreveste.
E eu também gosto de ti. Mas isso já o tinha dito :)

Beijinhos.

Alien8 disse...

Anónimo,

Obrigado. Abraços para vós e uma boa semana.

Vanda disse...

Alien,

estou a passar para o "papel" uma receita especial, para esta celebração de amor...

Traz condimentos antigos e preciosos, que nos falam de viagens no tempo (como a vossa viagem),carece de tempo e de saberes enraizados para ser posta sobre a mesa (como a vossa aliança)...

Sei-te à altura do "avental" e da touca de "chef" :)


Não mudes ainda de "post" por favor!

:) beijos meus

Vanda disse...

E aqui deixo sobre a alva mesa, entre jasmins, mimosas e jacarandás, a minha modesta oferenda...


Caril de Camarão



1 coco
250 gr. de coco ralado
1/2 colher de chá de pó de açafrão das Indias
1 colher de chá de caril
1/2 colher de chá de cominhos
1 colher de chá de coentros
6 dentes de alho
1 colher de sopa ou mais de malagueta moida com com água
3 cebolas
100 gr. de camarão descascado
1/2 chavena de água de tamarindo ou 1 colher de sopa de bom vinagre
1 pitada de açucar
2 malaguetas verdes
sal q.b.
3 colheres de sopa de azeite (aprox.)

Preparação

Rala-se o coco. Tira-se o sumo grosso e deixa-se à parte.
Quando se tira o sumo ralo adiciona-se nele o pó de caril, açafrão das Indias, os cominhos, o coentros e os alhos.

Descasca-se o camarão, tempera-se com um pouco de sal e fica uns 10 minutos assim. Corta-se a cebola em meia lua e põe-se a refugar no azeite com uma pitada de de açucar e um pitada de sal. Assim que a cebola fique loura, acrescenta-se a pasta da malagueta moída e mistura-se bem com uma colher de pau. Quando a malagueta estiver tostada deita-se o sumo ralo e deixa-se cozer bem e engrossar, mas não demais.

Lava-se muito bem o camarão e escorre-se. Quando o caril já tiver engrossado um pouco, deita-se o camarão. Logo que o camarão esteja cozido deita-se a água de tamarindo ou vinagre e deixa-se levantar duas fervuras.

Por último, deita-se o sumo grosso e uma ou duas malaguetas verdes cortadas ao comprido e bilimis também cortados ao comprido ou solans de manga. Ferve bem.

Depois cozinha em lume brando até o azeite vir à superficie.

O caril cozinha-se sempre em panela aberta e fica melhor se for confeccionado numa panela de barro...


Notas minhas:
1.Desconheço se em Portugal se vendem Bilimbis, fruto da árvore "Bilimbeiro" e que no Glossário Luso-asiático vêm descritos da seguinte forma:
é estimado e tem melhor sorte que a caramboleira; rara será a casa que não possua o seu Blimbeiro e que o não regue.
São os nossos tomates perennaes; do mesmo modo que estes na Europa, aqueles temperam na India as comidas.


2.Solans de Manga: talhadas de manga verde, secas e salgadas (in Etnografia da India) servem para condimentar o caril.


3.Para substituir o coco em fruto, julgo que poderemos utilizar 2 ou 3garrafinhas de leite de coco.



Acompanha-se com arroz Basmati, cozido simplesmente em água, sal e uma colher de manteiga.


:) bom apetite!!!

Alien8 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

oi mano,

Como sempre tudo o que escreves, é lindo e é um orgulho receber um poema assim da pessoa amada. A Lola é uma felizarda.
Fico à espera de um poema dedicado á mana, pois o outro que tenho religiosamente guardado já tem pelo menos 30 anos. Ah pois é, o tempo passa muito depressa. Beijos grandes para os dois.

Alien8 disse...

Vanda,

Obrigadíssimo pela excelente receita - e pelo resto! Já sabes qual vai ser o próximo post :)

A minha dúvida agora é: digo de quem é a receita ou não? :)

Beijos!

Alien8 disse...

Mana,

Obrigado pelo que dizes e também por esperares...:)

Mas... olha lá, trinta anos não é um bocadito exagerado? :)

Beijinhos da Lola e do mano.

Vanda disse...

Alien :)


A receita foi "tirada" da net, do seguinte link


http://xirico.com/c_htm/tri/culinaria.php


e sobre ela apenas fiz uma alteração:

acrescentei a colher de pó de caril.

Confesso que nunca fiz um caril tão rico quanto este.

O meu de domingo, embora saboroso, ficou aquem das minhas expectativas e do aroma :))

Aliás, tomei conhecimento deste link, exactamente por essa razão.

Por isso...faço a mesma pergunta... a receita será de quem? :)


Nossa momentâneamente, já que aqui está, não te parece? ;)

Beijinhos

Alien8 disse...

Vanda,

Pois se a tiraste do site do Xirico, o Jorge que conheci superficialmente em Moçambique, então... a receita é de caril africano, moçambicano, e devo tê-la provado há muitos anos :)))

Nesse site há coisas que me foram e são bastante familiares. E algumas curiosidades de que te falarei.

Beijos.

Anônimo disse...

belo poema, belas palvras :)

Bjs e resto de boa semana

Vanda disse...

Alien :)


E porque razão me teria ocorrido oferecer esta receita senão pelas suas origens e riqueza de condimentos, simbolicamente, neste post, ao Alien, poeta e homem sensivel?

Tudo acontece naturalmente Alien, depois de ver o fracasso do meu caril:) pedi ajuda a um amigo que há anos atrás fez um caril delicioso, que eu provei e gostei, para perceber o que tinha errado.

Embora ele não consiga passar para o papel a sua receita (moçambicana) deu-me a conhecer este link. Julgo que o caril moçambicano terá influencias (fortes) do caril indiano, uma vez que ate falam nos Bilimbis (que eu ignorava o que fosse e que sem a preciosa ajuda do glossario, ainda hoje desconheceria)e também dos solans de manga, muito utilizados na India.

Não sei quem é o Jorge :) mas acredito-o um sabio e talentoso chef de cozinha para ter estas maravilhosas receitas. De fazer crescer água na boca.

Será que o caril de camarão moçambicano não leva mesmo caril e apenas açafrão das Indias? (passa os olhos na receita original para perceberes esta pergunta)

Pois fico a aguardar pelas curiosidades que me contarás.

Também tenho algumas para partilhar contigo, sobre a surpresa que tem sido a leitura do livro " A Intervenção Surrealista" de Mário Cesariny (achei-o ideal para principiantes), que -por fim e embora com sol- comprei hoje, e ao qual dediquei umas boas horas de leitura :)) O Gin Tónico continua ausente da Fnac.

Beijos

Alberto Oliveira disse...

Do poema pouco há a acrescentar ao que se foi escrevendo mais para trás. É belo e deve ter feito as delícias a quem se destinou e a satisfação do autor, que apanhando a embalagem, não se deve ter ficado por aqui, no que às palavras poéticas se refere.

Fiquei a salivar com a receita do Caril de Camarão da nossa comum amiga Vanda. Depois de Bacalhau Com Molho Dourado...
Com a carestia de vida que se faz sentir, já sei onde poupar alguns euros: passo a vir aqui à hora das refeições...

Abraço.

Alien8 disse...

Mar,

Muito obrigado.
Um bom quase fim de semana para ti,
e beijinhos.

Alien8 disse...

Vanda,

Antes de mais, o Jorge é o Xirico (alcunha). Fazia parte de uma banda (na altura chamávamos-lhe "conjunto") onde tocavam dois amigos meus de juventude. Há fotos do conjunto no site dele. (Xirico.com, seguir links...).

Nunca lhe conheci dotes de "chef", deve ter tirado a receita de algum lado (coisa que também faço:)

O caril moçambicano tem óbvias influências do indiano e, sim, o caril de camarão leva caril, que falta na receita. Mas... como se fazia realmente era ir ao mercado comprar 4 pozinhos diferentes (para caril de carne) ou 12 (para caril de peixe, gambas, camarão ou caranguejo). Nem sei já os nomes desses ingredientes, mas a mistura fazia um excelente caril de carne (ou aves) ou peixe e marisco. Muitas vezes fui ao Mercado Vasco da Gama com a minha mãe comprar esses ingredientes...

No mais, tu és surrealista, confessa :)))

Beijos.

Alien8 disse...

Legível,

Pois, adivinhaste, não me fiquei por ali, nem pouco mais ou menos :)

Obrigado pela tua apreciação. Conto contigo para os petiscos que de vez em quando aqui apresento. Tens lugar guardado nesta mesa, obviamente.

Um abraço.

Vanda disse...

Alien :)


Então é por isso que na receita, com tantos condimentos, falta o principal...era só uma questão de ir ao mercado compra-lo e dizer para que fim era, toda a gente saberia esse passo importantissimo desde tenra idade!...


Mas eu não :))


Engraçada a coincidencia de te indicar um link que tu já conhecias e que até conhecias o seu criador...o mundo é mesmo uma ervilha :))


Pois. Serei surrealista :))confesso. Para o melhor e para o pior :)) Mas só quando permito.

E normalmente isso acontece quando me sinto cansada do mundo...assim um cansaço que pede divórcio urgente ou férias prolongadas :))

O mundo fica um pouo amuado com a minha partida, mas nada que o faça sair dos eixos :))

:)) beijos

Anônimo disse...

Abraços aos dois.
Bom fim de semana.
http://bandeiranegra1.wordpress.com/

Anônimo disse...

Abraços aos dois.
Bom fim de semana.
http://bandeiranegra1.wordpress.com/

Vanda disse...

Alien,


Em Lisboa, quem sabe no Martim Moniz seja possivel encontrar o preparado de caril para os camarões?

De qualquer forma, descobri um outro link que para o Caril ou Garam Massala nos fala de temperos como os cominhos, cravo da India,coentros, cebola, pimenta, mostarda, cardamomo e gengibre...

Já nos faltam poucos ;) para as 38 combinaçõe possiveis no Caril :))


Bom fim de semana :)

Alien8 disse...

Vanda,

Falta mesmo o caril na receita :)
Senão, deviam ter indicado pelo menos algumas das especiarias e ervas aromáticas, como as que referes. O cardamomo é um dos produtos de Moçambique mais procurados por quem lá vai. É abundante e barato.

O mundo é uma ervilha? Se é! Várias histórias que se passaram comigo, sobretudo uma delas, convenceram-me disso:)

Bom domingo e um beijo!

Alien8 disse...

Anónimo,

Abraço dos dois, bom domingo!

bettips disse...

Uma beleza, vós e o que espalhais, na tal ervilha-do-mundo que fica mais verde-esperança e colorida. Que é tudo tão acinzentado!
Bjinhos a dois

Alien8 disse...

Bettips,

Obrigado em nome dos dois.
Beijinhos, também dos dois.