Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

30 de abr. de 2011

Primeiro de Maio





O Primeiro de Maio. Hoje, como em 1974, no Porto como em qualquer outra cidade.







Hoje mais do que nunca, em Portugal.





Giestas, maias, maios, a festa do povo e da vida.
Cada vez mais longínqua, cada vez mais necessária...




Para que o Dia da Mãe faça sentido.









Para todas as Mães.





11 comentários:

Lizzie disse...

Pois, Alien, pelo lado histórico e afectivo, são dias que deviam ser abrangentes e quer um quer outro nem deviam ter "um dia".
Deve-se respeito e dignidade a quem mereça ser respeitado e dignificado.

Mas, agora referindo-me a Portugal e também ao teu post de baixo sempre te conto como no outro dia me caíriam os queixos se não estivessem presos. Tal é o estado da nação:

fui a uma reunião, com mais trinta,contei-os, com um senhor secretário de estado.
Pessoa importante como parece que o ilustre cargo obriga.

Antes de entrar, todos, por acaso muito mais importantes que eu, botaram discurso contra determinada ideia do referido senhor ou lá de quem seja tal absurdo irrealista e fictício nunca visto em parte alguma onde há pobreza e outros atrasos na civilização.

Quando entraram e lhes foi pedido parecer, ai Jesus Sr. Dr. concerteza, que grande ideia! Ficaremos à frente na Europa. Vénias e mesuras, palavras caras e modernas, tudo muito "contextualizado", "estruturado", "mapeado", "objectivado" e outros "ados" que agora não me ocorrem.

Só três pessoas, em trinta e uma, discordaram: uma de formação católica e de direita, outro de extremo marxismo e eu que não sou nem uma coisa nem outra.
Mas estávamos todos de acordo na essência.
E havemos de pagar o preço da discórdia.Já vamos começando a pagar porque o que vemos por aí não é o que existe, não senhor.

E depois à saída, voltaram todos a discordar, já o importante, representante do autoritário Pai da Nação, tinha ido para outros afazeres de agenda e não estava ali para ouvir.

E pensei cá para mim que o pior dos atrasos é o consentido. O fado da cegueira e da obediência. Como se houvesse um pensamento em eterno estado larvar.

Pensei que os tais vinte e oito, hão-de concordar e bater o pézinho, qualquer que seja a música. Desde que o ritmo seja ensurdecedor.

Confesso, com tristeza que, apesar de tudo e de também não ser o paraíso, me souberam muito bem uns dias em Espanha onde, infelizmente, encontrei quarenta desorientados portugueses, muito novinhos, com esperança de ter emprego.
Custou-me avisá-los que não sou, apesar da imponência da idade e da experiência, a versão feminina e individualizada do D. Sebastião.

Grande abraço para os dois. Como sempre e sem dias.

Justine disse...

E na rua estive, e na rua desfilei - como mulher, como mãe -, para que a vida faça sentido!
Abraço

Anônimo disse...

Porque hei-de ter estado ali, algures, na foto acima. E estou na sensação de mãe e livre-dentro, livre-pensamento.
E assim nos encontramos e encontrámos.
Abraço-vos.
Bettips

wind disse...

Ainda me lembro do meu 1º de Maio às cavalitas do meu pai na Alameda porque era tanta gente que eu não via nada:)
Mãe, enorme esta palavra!:)
Beijos

Alien David Sousa disse...

Mano, não sei porquê mas tenho a sensação de que esses dias são cada vez mais esquecidos. 10 Junho= Praia. Entendes?
Kisses Alienígenas

Alien8 disse...

Lizzie,

Com um atraso vergonhoso, é verdade, mea culpa sem perdão possível, digo-te que assim se "desanda" neste país onde o medo está a ter tudo. Não é o único país onde isso acontece - mas é o meu.

Como não ficar triste?

Resta-nos a coragem de quem sabe dizer não, e a esperança ténue de que o número aumente. De ti sei que o dirás quando preciso for.

Um abraço.

Alien8 disse...

Justine,

E mais vezes desfilaste e desfilarás, porque é preciso, apenas por isso.

Abraços.

Alien8 disse...

Bettips,

Reconheço-te na foto :-)
Talvez te tenha visto por lá!

Um beijo de ambos.

Alien8 disse...

Wind,

Foi assim mesmo! Sorte tua ires às cavalitas!

Um beijo.

Alien8 disse...

ManaDS,

Tens toda a razão, essas datas são cada vez mais esquecidas, e não apenas por causa da praia.

E o resultado é o que se está a ver...

Beijinhos alienígenas.

Alien8 disse...

PARA AS 5 AMIGAS E ILUSTRES COMENTADORAS QUE NÃO DESARMARAM, APESAR DA MINHA AUSÊNCIA: EM BREVE, MUITO EM BREVE, PASSAREI PELOS VOSSOS BLOGUES.