Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

20 de out. de 2008

FMI - Para ouvir com tempo e atenção...

PRIMEIRA PARTE:



SEGUNDA PARTE:

30 comentários:

Teresa Durães disse...

hum... aqui não ouço... deixo um beijo

wind disse...

Soberba a interpretação dele!
E como está tão actual.
Beijos

Alien8 disse...

Teresa,

E no You Tube?

Beijo.

Alien8 disse...

Wind,

Muito actual, mesmo.

Um beijo.

Teresa Durães disse...

hum.. não é por ser aqui no teu blog mas porque onde estou neste momento não tenho colunas.

Alberto Oliveira disse...

... volto atrás no tempo e fico com a ideia que o tempo não passou. Para o melhor e para o pior.
Para o melhor, porque o Zé Mário foi sempre igual a si próprio. Nesse tempo e na actualidade (está ligeiramente "mais velho" -como o pessoal de Almada aqui há pouco tempo atrás num dos seus recentes espectáculos lhe lembrou da plateia "já tínhamos saudades tuas Zé Mário!" e a que ele respondeu "também eu, também eu."
Para o pior porque "está tudo na mesma"... ou pior ainda. De resto, as palavras deste cantautor falam por si e de um país eternamente adiado.
Obrigado Allien por trazeres aqui o José Mario Branco no seu melhor.

bettips disse...

Pois...a memória que se não perde. Antes perdesse. E fosse só nostalgia!
Mas não é, é raiva de ver tudo delicodoce, como um mau chocolate embrulhado para enganar os "pobres" e as crianças.
Saudações!

Lizzie disse...

Ouvi com mais atençao que tempo, este grito fendido em dois tempos.
Não conhecia, porque quando parti a galgar o oceano foi porque não tive vontade de ficar. Não fugi ficando, mesmo que fosse, em pensamento, mantendo conversas com a minha mãe.

É muito estranho, Alien, já se nascer sem pertencer a lado nenhum.

Mas compreendo estes gritos porque ainda hoje os sinto quando vou lá fora e regresso sempre à espera que alguma coisa tenha, em dias e por milagre, mudado. Mas não!
Sempre o surrealismo do que não se entende. Sempre uma espécie de condenação à apatia. Sempre o macro e o micro egoismozinho ao sabor de um maestro divertido que ora tem cara de D. Sebastião ou de Pai orientador do progresso da pátria cheia de vâ glória, nem que para isso tenha que castigar os meninos. A bem deles.

Boa interpretação.

Abraço.

Alien8 disse...

Teresa,

Ok, ok... :)
Quando tiveres...

Beijos.

Alien8 disse...

Legível,

Pensei que seria boa altura para "recordar" este FMI...

O tempo passou. Estamos todos mais velhos, ou menos novos. Mas tudo está na mesma, ou pior, como dizes.

Em todo o caso, continuamos (alguns) a gostar de ouvir o José Mário Branco, e a pensar que o "FMI" não perdeu actualidade. Nenhuma.

Um abraço.

Alien8 disse...

Bettips,

Nostalgia do que não (se) foi? Também é possível, mas seguramente dolorosa.

Alguma raiva, sim. Exactamente pelo aspecto delicodoce da questão. E pela apatia, pelo conformismo, pela estandardização, pela assunção de falsos valores, e por aqui me fico.

Retribuo as tuas saudações.

Alien8 disse...

Lizzie,

Calculei que gostasses. Partir, ficar... que importa? Em qualquer lugar se pensa o que se quer, se luta pelo que se quer. A todo o lado chegam as notícias.

Infelizmente, é como dizes ( e pelo que dizes): não há milagres...

Um beijo.

Vanda disse...

Alien,


Não sei se existem momentos perfeitos para se ouvir o FMI de José Mário Branco.

Se há, este é um deles.


Como talvez há 10 anos atrás fosse.
Ou não? Em que acreditaríamos nós há 10 anos atrás para que hoje, não sustenhamos mais na garganta o lamento da alma?


O tempo passou, nós envelhecemos e connosco, os nossos ideais...o tempo passou, nós envelhecemos e não geramos os frutos tão desejados...Não fomos voz. Não mudamos nada.

Não coneguimos mudar o rumo.

Iremos a tempo?


Gostaria de acreditar que sim.


Como também vou gostar de ouvir e ver, de novo, mesmo velho (como eu) O José Mário Branco.

E sentir nas veias a pressa dos anos que nos restam.

A revolta dos anos queimados.



Urgente inventar um sangue novo.


-sem ele adormeceremos, suponho.



Um abraço, Alien, obrigada.

Alien8 disse...

Vanda,

Creio que sempre fomos fazendo alguma coisa, noutros casos tentando. Mas não basta querer e fazer: As forças contrárias são muito grandes, e hábeis na manipulação e no engano. É uma luta difícil, uma luta de sempre e para sempre. É natural que, às tantas, abrandemos ou paremos mesmo. É natural que haja momentos em que nos sintamos cansados e, porque não?, frustrados.

Para mim, é sempre tempo de ouvir o FMI. Não só pelo conteúdo, também pela magnífica interpretação e pela autêntica catarse que emana do texto e das palavras ditas e cantadas.

Sorte tens tu em poder ir ver e ouvir o JMB. Bom concerto, e vê um bocadinho por mim :)

Obrigado e um abraço!

Vanda disse...

Alien,


...e ainda cá volto, com receio que não entendam (ou entendam mal)as minhas palavrs "mesmo velho (como eu) o Jose Mario Branco": não se relaciona com a idade, mas sim com a "antiguidade" dos nossos ideais...com a caducidade da nossa esperança...

Beijos

Vanda disse...

:))


É dificil, sim.


Dificil não sucumbir aos fascinios das cenouras ou dos bolos com que nos vão acenando. Dificil não pensar nos compromissos financeiros. Dificil não ponderar no futuro dos filhos. Dificil nao sentir a corda na garganta.

Mas o silencio também o é.

O adiar doi.

A caducidade da esperança é uma sombra que nos mata lentamente...


E assim será uma luta de sempre e para sempre.


De vez em quando os astros sorriem-me, que outra explicação poderei encontrar? :)


Mais beijos!

Alien8 disse...

Vanda,

Tens toda a razão, e ninguém te interpreta mal, creio.

Difícil é também a vida, esta vida com a esperança sempre adiada. Apesar das cenouras ou mesmo dos chocolates (e dos bolos da caneca:).

A esta hora já o concerto acabou. Que tal?

Um beijo.

Anônimo disse...

Abraço aos dois, bom fim de semana.
http://bandeiranegra1.wordpress.com/

Vanda disse...

Alien, o concerto é dia 30, proxima quinta feira!

Ainda falta domingo...segunda...terça...quarta! :)


Será grande. Como sempre foi.


E nos intervalos do bolo da caneca, nós vamos dizendo não, à medida da nossa voz e estatura. Mas há dias em que nos sentimos tão transparentes!

Como se para os outros, o que dizemos ou fazemos, não fizesse sentido...


Para ilustrar uma das fotos do Senegal, um destes dias, escrevi isto:

Eu queria inventar um sangue novo
qu não perecesse
de desesperança
eu queria inventar uma força
que a todos servisse
sem diferença.

eu qeria inventar um amor
que suportasse


a mudança.


E um vento


que nos levasse para lá do novo Bojador.


É este o sentimento.


Um abraço duplo :)

Vanda disse...

Alien,


Levei a tua Petição Inicial até ao Senegal. Vesti dela os sorrisos das meninas. Espero que não te importes :)


Dois beijos e bom domingo!

Alien8 disse...

Anónimo,

Um abraço dos dois.
E uma boa semana para vós.

Alien8 disse...

Vanda,

Oops, data errada :)

Fiquei com a ideia de que o JMB era neste fim de semana... enfim, a idade não perdoa.

Também aqui te digo que gostei de ler o teu poema, e de que levasses, como dizes, a minha petição até ao Senegal. É uma bela viagem, e refiro-me especialmente à que se faz através da tua sequência de posts.

Beijos e uma excelente semana para ti!

Anônimo disse...

A memória não se esqueçe, assim o esperamos......
E a história, será q essa se repete? acho q de certo modo sim, "não em circulos mas em espiral", dizia um prof de filosofia meu, já lá vai mt tempo.
Mt mais havia a dizer, mas tu sabes como eu sou preguiçosa.....
Boa semana, Bjs

mar, cansad e hj só é 3ªfeira

Alien8 disse...

Mar,

É exactamente isso, em espiral!
E já disseste tudo :)

Bom descanso, se e quando puderes.
Beijos.

Vanda disse...

Alien


Foi realmente bom ouvir Jose Mario Branco. Também os seus convidados e amigos de longa data, Gaiteiros de Lisboa, que há tanto tempo não ouvia. Mudar de Vida- 2.

Acordar o pensamento.

Este é o tema.


:) não teria sido sempre?


Mesmo nos dias longos, quando o corpo responde automato às exigências da vida, não haverá sempre uma chamada à razão?


Uma luzinha que mesmo ténue continue a indicar o caminho?


Gostaria de ficar por aqui na cavaqueira, inspirada pela voz de JMB mas confesso-me estourda...red line....!


Já vejo as paredes aos quadradinhos :)


Um grande abraço, companheiros de viagem :)

Lola disse...

Alien,

Relembrar a ironia a sério do JMB.

"FMI não há graça que não faça..."

Beijos grandes

Alien8 disse...

Vanda,


Descansa! :)))

Beijinhos.

Alien8 disse...

Lola,

Muito a sério!

Beijos grandes e pequenos :)

Pêndulo disse...

O que mais custa é ouvir isto sem sentir o enfado das coisas datadas no tempo.
Como o ser perene pode ser triste.

Alien8 disse...

Pêndulo,

Pois. Ou: estas coisas não têm data.
E, mesmo que tivessem, talvez não provocassem esse enfado de que falas. Talvez apenas alívio, quem sabe? Não temos, e aí é que está o problema, maneira de saber...

Abraço.