Aliencake
Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.
16 de abr. de 2006
Ainda em tempo pascal...
Poema vindo dos dias
A tua cruz senhor é pouco funcional
Não fica bem em nenhum jardim da cidade
dizem os vereadores e é verdade
E além disso os nossos olhos cívicos
ficam-se nos corpos de que nos cercaste
Saudamo-nos por fora como bons cidadãos
Submetemos os ombros ao teu peso
mas há tantos outros pesos pelo dia
E quando tu por um acaso passas
retocado pelas nossas tristes mãos
através dos pobres hábitos diários
só desfraldamos colchas e pegamos
em pétalas para te saudar
Queríamos ver-te romper na tarde
e morrem-nos as pálpebras de sono
(Ruy Belo, "Aquele Grande Rio Eufrates")
13 comentários:
Chegar e ter Cesário Verde e Ruy Belo a dar as boas vindas, amortece a chateza anunciada. Obrigada!
Obrigado eu. Foi boa a Páscoa?
Estive num convento na Estremadura espanhola. Pequenos almoços divinais. Nenhuma televisão a poluir o ambiente. O cigarro também não. Só fumeguei no quarto e no claustro. Se quiser dou-lhe a dica, para nunca usar no Inverno. Há demasiados acessos pelo exterior.
Quero, sim :) Essa dos pequenos almoços divinais convence-me. E a falta de fumo também. O que não garanto é que lá vá este Verão, mas nunca se sabe. Chega-se lá em quanto tempo?
Fica entre Badajoz e Zafra. Nós demorámos 5 horas, saídos do Porto. Desta vez não fomos a 200. Consulte http://www.laparra.net
O único jantar que lá fizemos estava bom. No outro fomos à estrela Michelin a Badajoz. Adoramos comer.
Obrigado pela dica e pelo url.
Sempre genial e portuno Ruy Belo. Beijos
*oportuno
belo poema para iniciar a semana.
A proposito renovaste o look....ficaste mais alien:):)
bj
Cila,
Fiquei mesmo? :)
Boa semana.
Beijos.
Olha, olha, de cara nova ... :))))
Aqui estou eu no início de nova semana para te dizer que adorei a partilha do poema ... então a última frase arrasou comigo .... lllliiiiiinnnddddoooo !!!!
Em relação ao resto, nem vale a pena agradecer, na vida recebemos sempre aqui oo que damos ... ;)
Beijinhos Gordos e encaracolados para ti e restante família aqui da molusquita !!!!
Caracolinha,
É lindo, sim, ainda bem que gostaste.
Beijos para ti e para os teus. Boa semana.
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