Aliencake

Foi numa tarde de sábado, de encontros, reencontros e desencontros, de estreia literária e café, tudo prolongado em noite, jantar e mais café, ficando no entanto curto o tempo. De súbito, aparece-me pela frente um bolo com a minha cara. Um bolo com rosto de Alien. Olhei-o uma e outra vez, e só não me belisquei porque dói um bocado, convenhamos. Mesmo a aliens. As pessoas cantavam os parabéns e batiam palmas, eu ouvia e agradecia, mas mal tirava os olhos do bolo. Fizeram-me pegar nele com uma mão, perante a apreensão de alguns circunstantes, e conduzi-lo, ou deixar que me conduzisse, à mesa improvisada. Vivendo desde sempre em terrível dúvida sobre a minha origem e condição, houve um instante luminoso em que tudo se revelou. "Sou um bolo, afinal sou um bolo!" - exclamei para mim mesmo, entre alguma perplexidade e o alívio de uma certeza há muito tempo aguardada. Foi sol de pouca dura. Lá tive que partir o bolo. Lá tive que me cortar à faca em fatias que rapidamente desapareceram. Ao que parece, estava bom, eu. O facto é que, apesar disso, ainda estou vivo. Não serei, então, um bolo? Serei apenas a recordação dele? Felizmente, a fotógrafa estava lá. Serei assim talvez a fotografia de um bolo. Há piores destinos. Há piores fins de tarde-noite de sábados de lançamentos de livros, encontros, reencontros, desencontros, jantares, cafés, aniversários e ainda mais. Muito, muito piores, garanto-vos.

22 de abr. de 2006

Ainda o uso de palavrões

Ainda, não porque já me tenha referido ao assunto, mas por causa das diversas opiniões expendidas por essa rede fora, muitas delas considerando que o uso do palavrão avilta a língua, pelo que seria conveniente bani-lo.

Eu uso muito pouco o palavrão, por opção minha: entendo que o palavrão deve ser utilizado com moderação e, se possível, com respeito pelo bom gosto e pela unidade do texto em que aparece. O palavrão não avilta a língua, mas pode certamente, quando mal usado, maltratar o texto, aviltá-lo e traír-lhe as intenções. Ou seja, insultá-lo.

Por exemplo, se Fulano passa a vida a chamar filho da puta a toda a gente, a torto e a direito, no dia em quiser efectivamente chamar filho da puta a um filho da puta, ninguém lhe valoriza o qualificativo, passando o filho da puta nomeado impune, e com toda a calma. O mesmo se pode dizer de Sicrano, que constantemente manda pessoas à merda ou a outros locais que agora não cito, porque seria totalmente desnecessário: Quem está a ler sabe bem quais são.

Daí o meu apelo à parcimónia. Não se podem usar todas as jóias ao mesmo tempo. Seria de um tremendo mau gosto. Por outro lado, há jóias que não se adequam a certas ocasiões. Donde se segue que, além da parcimónia, é preciso critério. Bom gosto e bom senso, perdoem-me o lugar comum.

Como exemplo da utilização criteriosa e adequada do palavrão, não vou citar nenhum clássico, que sempre ficaria bem e daria uma óptima fatia de apoio moral. Não. Recuso essa facilidade, e remeto para uma anedota que, mesmo sendo velha e muito conhecida, não resisto a invocar em defesa do que venho post(ul)ando.

Numa campina do Ribatejo, um touro tresmalhou-se e provocou sérios danos na propriedade vizinha. A coisa deu para o torto, quer dizer, para o tribunal, e às tantas o maioral que deveria ter vigiado o turbulento bicho teve que prestar depoimento. Inquirido pelo juíz, entendeu colorir a explicação dos factos, para que nada escapasse à compreensão do meritíssimo. E assim falou:

"Senhor Doutor Juíz, vamos a um supônhamos. Vossa Incelência é boi. Anda pelo campo a pastar, desembesta-se, vem de lá da raíz da puta que o pariu, bate c'os cornos na cerca... e quem se fode é o maioral!?"

Não sei se me fiz entender...



35 comentários:

Cristina disse...

ora aí está! também nunca fui adepta do palavrão. na lingua falada, não me impressiona e uso quando me apetece ou a situação justifiica looool, ultimamente até não faltam motivos. e sabe bem... :))))
mas na escrita, confesso que não acho muito estético....claro, há textos e textos..


jinhos grandes...e estamos condenados a ber o fequeppêeee ganhar num?

wind disse...

Gargalhadas:) Genial post! Confesso que também não sou muito adepta dos palavrões, mas na altura adequada, sim tanto escrita (poemas9 como também os digo (parece que ajuda a passar a fúria.lol)
A anedota não conhecia e está muito bem "apanhada":) Parabéns poer este post!:) beijos

maloud disse...

Eu depois comento, até porque sou uma experte.
Agora só vim anunciar que somos CAMPEÕES.

Nina disse...

Fizeste-te entender perfeitamente...Adorei o texto :)

Beijinho e Bom Fim de Semana

maloud disse...

Ora bom. Não uso o palavrão nunca, nem quando me salta a tampa, nem sequer calão e não permito que os meus filhos pronunciem à minha frente. Portanto nem "gajo" dizem. Está fora de questão ceder. Claro que o que me atura também não, senão deixava eu de aturá-lo.
Dito isto, acho uma graça imensa à populaça do Porto que é uma expert no uso. Já manifesto desagrado, se outro estrato social o empregar, coisa que se tornou moda de há uns anos para cá. Mas a falar comigo ninguém usa. A família diz que eu, mesmo que sorria, lanço um olhar de tal forma gelado que intimida.
Na escrita, se for boa escrita, nem dou conta. Leio o Lobo Antunes e quase não me dou conta do vernáculo. Talvez, se lesse a "marca registada" ou o Dan Brown, e eles usassem, me chocasse.
Na anedota também não me choca. Confesso que em matéria de linguagem sou muito sui generis. A prole diz que eu devia ter afixada na porta de entrada a lista das palavras interditas. E talvez tenha razão.

Cecília Longo disse...

belo texto e muito adequado à blogosfera:):):)

beijinhos

Alien8 disse...

Cristina,
Pois claro, gente fina é outra coisa! :)
Estávamos mesmo condenados, mas a mim não me custa nada, até fui casar ao Porto e tudo lololol.
Beijinhos.

Alien8 disse...

Wind,
Obrigado! É como dizes, na altura adequada. E dá para desopilar e tudo.
Beijos.

Alien8 disse...

Nina,
Bem-vinda aqui a casa! Volta sempre que quiseres. Ainda bem que entendeste. A ideia era essa :)
Bom fim de semana e um beijo.

Alien8 disse...

Maloud,
Aprecio a coerência. A sua e a do seu comentário "on the rocks". Nem preciso de dizer que concordo com o que escreveu - mas sempre disse. À cautela!

Eu também gostaria de ver essa sua lista publicada, por exemplo num comentário no Abrupto...

Agora por isso, gostei das suas respostas cirúrgicas e certeiras. Muito.

Pêndulo disse...

Confesso que incorro nesse pecado. Infelizmente há vezes em que nem me apercebo. Mas eu tenho atenuante, sou do Norte, do Grande Porto, e aqui é comum. A propósito relato uma situação a que assisti que me fez explodir em gargalhadas. Mas vivida é que foi hilariante.
No Porto, na rua da Alegria, ao chegar ao Lima 5 , há um semáforo onde eu estava parado,de tarde e ao volante de vidros abertos, estava uma trabalhadora sexual no passeio. De uma porta que se abriu saiu uma criança, dois ou três anos apenas, ainda titubeante no andar, e assomou uma senhora, a mãe, claramente colega da do passeio. Esta, quando viu o menino, sorriu-lhe, agachou-se, abriu os braços e chamou-o, carinhosa, com um sonoro e radiante:
- Anda cá meu filho da puta !
Nunca tinha visto esta expressão tão bem aplicada e de forma tão meiga.

Anônimo disse...

Pendulo
O teu comentário levou-me até ao Porto.
Quando ia ao Lima 5 (ainda existe?)
Tens razão, no Porto o Vernáculo não é bem palavrão.É voz corrente.
(o Alien que me perdoe a incursão)
Beijos
Lola

maloud disse...

Que mania esta! Então eu não sou do Porto? E a prole também não é do Porto?
Deixem-se de disparates.

Parrot disse...

Alien8,
Muito bom post, e muito pertinente. Não uso, apesar de às vezes (situações extremas), lá me sair um. Quanto à escrita, não uso e não aprecio.

Abraço

Alien8 disse...

Cila,
Obrigado :)
Um beijo.

Alien8 disse...

Pêndulo,
Loooool! Deliciosa história! Mas há quem não considere o facto de se ser do Porto uma atenuante, basta ver o comentário da Maloud :)
Bom resto de fim de semana.

Alien8 disse...

Lola,
Vox populi vox Dei... :)))
Ora, como se eu não soubesse! Eu até nem vivi no Porto nem nada. Não é?
Beijinho. Vernáculo, claro. Estás perdoada.

Alien8 disse...

Parrot,
Obrigado. Por situações extremas posso entender uma martelada num dedo? Disse alguém que cavalheiro é o que dá uma martelada num dedo e diz "Ai!" :)
Um abraço.

Alien8 disse...

Maloud,
Como reza o final daquela outra anedota: "Ó José, valha-me Deus! Olhe que um pingo de solda num olho aleija uma pessoa!"

Parrot disse...

loool

Bolas, meu caro, vais buscar cada exemplo que me deixas com dificuldade de argumentação. Deformação profissional? lol

Bom, para esse exemplo, reconheço que nem sempre sou cavalheiro, dependendo da martelada, do dedo, e do local. lol

Grande abraço e já agora uma boa semana.

Cristina disse...

olá, voltei :))))

olha voltei só para ouvir a música:))) é espectacular! importas-te de m' a enviar? não sei se a Lola a mandou mas tenho preguiça de procurar lol

é um bom som para um blog, yep! ;)

jinhos

Cristina disse...

ups...afinal encontrei :)) não te imcomodes...jinho

Alien8 disse...

Parrot,
Já estás a ver, ser cavalheiro é difícil :))
Outro abraço.

Alien8 disse...

Cristina,
Olha, ia agora mesmo mandá-la :)
Sabes quem são (ou eram) os Neverend, suponho :)
Um beijinho.

Caracolinha disse...

Olá 8 !!!!

Ora aí está ... olha, sabes, eu sou daquelas que acho que são palavras e valem apenas pelo significado que se lhes decidiu atribuir ... e sabes que já ouvi as maiores asneiras de algumas bocas que nem sequer me melindraram e já ouvi palavras tipo porra de outras que achei absolutamente nojento !!!!

Acho que, como tudo na vida, tem mais a ver da boca de onde saem ...

Eh pá mas este post é hiper terapêutico !!!!

Bjinho encaracolado !!!! :))

Alien8 disse...

Caracolinha,
Ainda bem que é hiper-terapêutico, assim ajuda a sarar as feridas na tua casquita, que eu bem as vi lá na Contra Capa :)
Concordo contigo: da boca de onde saem as palavras depende muita coisa, e a nossa impressão do que ouvimos. Da boca, do contexto, da nossa disposição... enfim, de tantas circunstâncias que nem damos, por vezes, conta delas.
Um beijo.

Caracolinha disse...

Querido amigo 8 ... já estou ali como a nossa muito querida Crisquita ... posso colar-me na roda e pedir-te esta música ????

Que GRANDE sonzaço !!!!

Lindo de morrer !!!!

Peço desculpa pelo abuso, mas como nos pussemos à vontade ... ;)

E eu nestas coisas sou afoita e descarada a pedir ...

Olha amiguinho, antecipadamente, te agradeço !!!!

Uma beijoca para ti, extensível à família !!!! :))))

Alien8 disse...

Caracolinha,
Com todo o gosto! Vou já tratar disso :)
Uma beijoca para ti também!

Mocho Falante disse...

ora aqui está um post que me agradou muito de ler e deixa-me dizer.te que estou como a caracolinha...depende da boca que sai, forma e contexto

abraços

Alien8 disse...

Mocho Falante,
Estamos todos de acordo, portanto :)
Um abraço.

Cristina disse...

então num xei???

eram??? então, já acabou? não me lembro de me terem dito...

jinhos

Alien8 disse...

Olá Cristina!
Ou acabou ou há um interregno muito grande. Houve pessoal que foi estudar para o estrangeiro...
Se acabarem, é pena, mas as músicas continuam. E podem sempre ressurgir.
Beijinhos :)

LM disse...

Palavrão escrito,never!
No dia a dia,só quando a situação o exige;como diz a Cris, ultimamente tem exigido bastante.
Beijinho

Alien8 disse...

LM,
Eu aceito o escrito, e uso-o, como nos exemplos acima.
Beijo.

Alien David Sousa disse...

Foda-se eu não vejo porquê tanta merda à volta de uns cabrões de uns palavrões?? Não entendo esta caralhada!! Tá dito!
Espero que ninguém que eu conheco leia isto! :|